O sol brilhava lá fora. Convidava-a a sair de dentro do quarto, a aproveitar um pouco o belo dia que surgia, depois do tumulto que passara. Mas ainda assim, ela o recusava. Não precisava sair do quarto para aproveitar o que o dia lhe oferecia. E ainda se sentia tumultuada. Não tivera tempo para se organizar, lidar com seus pensamentos, seus sentimentos. Sozinha, resmungava “por que a saudade maltrata a gente? Por que não podemos lidar com isso racionalmente?”, enquanto procurava por algo entre um monte de papel que empilhara. Derrotada pelo cansaço, desistiu do que queria. Então, uma figura se materializara na sua frente. Assustada, pulou para trás, afinal não era normal receber uma visita, ainda mais daquele jeito, tão de repente. A figura se aproximava à medida que Sophia se afastava. “Olhe bem nos meus olhos e diga que não desistiu”, pedia a figura. Sophia hesitava, era apenas uma projeção de sua mente, não havia o que temer. Aproximou-se e analisou o trabalho genial que sua mente projetou. Era uma figura perfeita, a projeção exata do seu amado. Os olhos castanhos, ternos, contrastavam com seus lábios, que quando num sorriso, suavizavam qualquer problema. Sentira falta de vê-lo sorrir, de ao menos olhar em seus olhos e, para ele, sorrir. Sentia falta do seu abraço. “Sinto a tua falta”, disse ela, aproximando-se ainda mais. Ele sorriu e estendeu a mão para ela. Dessa vez, sem hesitar, tomou sua mão, lembrando-se de todos os momentos que passaram juntos. “Uma projeção um tanto real, não?” perguntou ele, sorrindo. “Uma cópia exata, um trabalho perfeito” disse ela, em resposta. “Mas e então…” começou a dizer, quando Sophia o interrompeu. “Não sei se posso dizer que desisti. Mas perdi a vontade, a esperança. Há somente uma coisa que quero, e, no entanto, entendo que é improvável que eu possa ter.” “Lute, então” disse ele. “Lutar? Muito tola eu fui.” Sophia replicou. “E, se me permite, poderia dizer o que tanto queria?” “Seria preciso?”, ela sorriu para ele. “Nós sabemos a resposta”, ele então retribuiu o sorriso. Sophia, dando um passo a frente, começou a discursar: “veja bem, eu me lembro exatamente de quando éramos um só, unidos. Eu contava contigo, e vice-versa. E já no primeiro instante fui conquistada. Mas receio que eu também tenha conquistado, entende?” ela sorriu para ele. “Mas, continuando. Se houve alguém que conseguia me envolver, esse alguém era tu. Nós ríamos, e não havia desentendimentos, ou raramente aconteciam.” “Vá logo ao ponto, por favor,” ele interrompeu. “Enfim, tudo isso para dizer que o que eu mais quero é te ter.” “E isso faria te sentir melhor?” perguntou ele. “Bem, contigo nunca me senti mal” “Disse antes que tu foi uma tola, por quê?” “Estive todo o tempo ao teu lado, e nunca fui capaz de te dizer o que eu sentia. Nunca disse “eu te amo”. E por isso, por ter perdido essa oportunidade, fico aqui me lamentando. Há quatro longos anos venho alimentando esse vazio que sinto dentro de mim, essa saudade que eu tenho.” Sophia explicou. “Deixe-me te dar um conselho: não desista. De nada. Se quer algo, lute, corra atrás. Se for para te fazer bem. Se me quer, lute por mim. Eu vou lutar por ti até o dia em que eu não puder mais. Se perdeu uma chance, crie outras. Mas nunca desista do que te faz bem.” disse ele. E com um último beijo se despediu de Sophia. Assim, Sophia acorda para o belo dia que acaba de surgir.
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