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Let me out Don't tell me everything Start it out Like any other day Must have gave the wrong impression Don't you understand where I belong? Well I'm not the one (Carry me home - The Killers)

sábado, 1 de dezembro de 2012

Carta

Naquelas cartas estavam os mais íntimos sentimentos. Em suas conversas contava-lhe os mais desconhecidos segredos. Isso em tempos que se foram, mas agora a busca é pela redenção. Um dia dissera que o amor era verdadeiro, sentimento que adormece em seu peito e é desperto por seu sorriso. Não mentira quando lhe dizia todas aquelas coisas. E preferia não tê-lo feito, pois assim não colocaria em dúvida a veracidade de suas palavras. Todo o questionamento provocava um sentimento de angústia, queria gritar que nada havia mudado, mas dessa vez preferira calar-se. Embora tentasse se afastar, tinha maiores motivos para se importar cada vez mais. Sentia que provocara tudo isso como punição e, para aliviar as tais dores, criara mundos em que fosse possível conviver com a culpa. Mas, além de tudo, sentia o que um dia os manteve unidos e isso sentia sempre. “Foste tu quem ouvira minhas histórias e a ti pedia conselhos. Lembro-me de nossas tardes, ah, nossas tardes! Aturava-me sem comentários, conversávamos como se o dia não tivesse fim. Por que eu tinha de jogar fora? Digo ser genial, mas por dizer, mesmo. Meus atos contradizem minhas palavras, eu sei, mas minhas palavras carregam a verdade incontestável do meu ser. Talvez um dia nos encontremos de novo, talvez aquelas palavras voltem a te significar algo, que para mim não deixaram de ecoar. Até lá continuo sendo a lembrança da tua ilusão. E apenas isso. Ignore minhas palavras, se assim preferir, esqueça-as, se te for melhor, mas não ignore a tua importância para mim. Então o que tu decidir eu aceitarei sem relutar. Mas talvez, se permitires, eu encontre um caminho que me traga de volta à nossa antiga estrada, que me traga de volta a ti. A decisão final deixa de ser minha e passa a ser tua”. Com uma lágrima descendo-lhe pelo rosto, pelas lembranças desencadeadas, fecha a folha de papel numa carta que talvez nem entregue.

Nome

Há tempos não dizia o nome dela, mas naquele dia fora diferente. Viu os lábios curvados num sorriso que muito antes conhecera, viu o brilho nos olhos que um dia não desviara dos seus. Sentiu saudade, alivio, sentiu tudo naquele instante. Era a quem, no início, fora apresentado. Os cabelos caíam por sobre o ombro, a mão apoiada na cintura, um corpo que secretamente desejava. Desejara, pois algo entre os dois mudou tão drasticamente que a distância dominou, esvaecendo o sorriso, o brilho inocentemente malicioso.

Aproximaram-se, aos poucos, receosos. Mas logo se viram como antes eram, grandes amigos, companheiros. O céu azul, a cor vibrante das flores e o canto dos pássaros faziam o cenário para os dois. Conversaram sobre tudo, sobre o Sol, a Terra, filmes e músicas. Enquanto ela ria, ele a fitava, maravilhado com a harmonia que testemunhava acompanhado. Entre as risadas, das mais tímidas às mais gargalhadas, ela o deitou sobre suas pernas, fazendo-lhe um tipo de cafuné em seu cabelo que mais parecia, como dizia ela, uma “bagunça com estilo”. Assim ficam por um tempo, olhando-se e rindo-se, enquanto o Sol se punha no horizonte. Não devia tê-la deixado partir, não depois do que passaram juntos e não antes do que tinham para passar. Ela, por sua vez, não devia ter se deixado levar. Mas independente disso, estavam ali, por uma força de um bem maior que não os deixaria desistir.

Falou seu nome outra vez e falaria por tantas vezes que o fizessem sorrir. Um novo dia amanheceria, e um novo após esse, mas não seria mais como era, não. Os novos dias amanheceriam para fazê-los sorrir e uni-los outra vez. Já haviam deixado suas marcas e seria difícil apagá-las. Mesmo estando longe, ele seria dela e ela seria dele. Até com tantos encontros e desencontros, o sorriso suave e brilho levemente malicioso seriam dele, e a ela restava-o como um todo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Vozes

As vozes o enlouqueciam, não o deixavam dormir. “Esqueça”, dizia a Razão. “Não desista, ela é uma boa moça. E gosta de ti.” dizia a Emoção. “Não se rebaixe procurando toda hora por ela, tenha um pouco de amor próprio!” resmungava o Orgulho. O que fazer quando se tem tantos dando palpites? Como saber qual seguir? Como ignorar o resto? Haveria um equilíbrio? Porque ele procurava incessantemente por um.

As noites mal dormidas resultavam num mau humor matinal. Não sabia lidar com ninguém nessas circunstâncias, era grosseiro com todos. Principalmente com ela, o que partia seu coração. Não queria magoá-la, mas não conseguia trabalhar com seu humor alterado. E vi em seu olhar, no sussurro de suas palavras o que provocava. Magoava-a sem intenção, e ela recuava propositalmente.

Um dia tentou mudar. E foi assim que percebeu que Alana se distanciava. Não só dele, mas de quem a cercava. Ela estava tão solitária, sentada num canto, com o olhar distante e ele não teve a coragem de se aproximar. Então os olhares se cruzaram, ela sorriu-lhe um convite, ele timidamente recusou. De todas as coisas que pudera ter feito, por que recusar-lhe um convite? Quando tanto queria se aproximar, quando queria voltar…

Procurou-a noutro instante. Concentrada num texto, mal lhe deu atenção. Mas suas palavras ríspidas, diretas, confirmaram seus receios. Era o próprio motivo de seu distanciamento. E ela o fazia com tanta classe, tão bem que criava uma barreira intransponível. “Posso falar contigo?” Alana olhou-o cética, admirada, contrariada. “Claro que sim. Diga-me o que te aflige.” “Eu sei que não tenho sido um bom…” Não sabia como rotular-se, afinal eram um pouco mais do que amigos, um pouco mais íntimos. “Amigo.” Completou Alana. “Bom, se é isso que eu sou…” “É um amigo quando não estamos juntos. Enfim, se veio dar explicações, poupe saliva, pois te entendo e não te obrigo a me dar satisfações. Agora, se me dá licença, vou continuar o que estava fazendo, preciso acabar para já!” E assim Alana encerrou a conversa.

As vozes insistiam mais e mais, o Orgulho insistentemente gritava para ser ouvido. O que acontecera não se pode explicar. Antes ela era tão carinhosa, mas agora suas palavras tornaram-se afiadas. A ideia de perdê-la por não lhe dar atenção era insuportável. Nunca gostara tanto de alguém como gosta dela. Decidiria o que fazer. O mais rápido possível, pois aos poucos ia perdendo seu lugar na vida dela, à medida que ela encontrava alguém para substituir. “Alana!” Ela fez um sinal para que esperasse. “Sim, Miguel. Esse é o meu nome, cuide para não gastá-lo, senão terás que me comprar um novo.” Ela disse, sorridente. Por trás do sorriso, pode-se ver a mágoa que guardava. “Compraria o mesmo, gosto tanto desse nome.” Sorriu-lhe em resposta. “Precisamos conversar.” “Podemos fazê-lo aqui.” Ela não parecia curiosa, embora forçasse a expressão de interessada. “Desculpe, estou um tanto ocupada. Encontramo-nos em algum outro lugar, pode ser? Mais tarde.” Dito isso, ela voltou sua atenção ao trabalho inacabado.

Sentiu que não a tinha mais. A Razão adotara o discurso “Avisei”, o Orgulho reclamava sobre a falta de amor próprio. Miguel já estava cheio daquela gritaria. Não queria mais escutar, não queria mais os palpites, não queria mais nada, somente tê-la. Para isso, teria de fazer valer a pena. Marcou um jantar em sua casa, uma sessão de filmes de suspense – Alana adorava pensar e concluir junto aos atores do filme – tentaria reconquistá-la. “Então, eu andei pensando e…” “Não, esse meu distanciamento não tem nada a ver com a nossa situação. Ainda continuo gostando de ti, mais do que deveria, até. Mas acho que alguns assuntos meus devem ser discutidos somente com o meu Eu, sabe. Esses espaços que tu me dás são ótimos, agradeço a ti pela compreensão. Mas não te preocupes, nada mudou!” As palavras dela lhe foram reconfortantes, e não tinha mais dúvida. Sempre a tivera, e continuaria a tê-la. O sorriso que ela lhe abriu extinguiu todas as desconfianças que teve, todos os problemas que o estressavam. Acalmou-o. E ali teve certeza: amava-a, e lutaria por ela. As vozes calaram-se, e a Emoção, vitoriosa, suspirou em paz.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Quando a história acaba de começar

“Diga-me o que te aflige.” dizia ela. “Pelos céus, não há nada, guria! Deixe-me quieta no meu canto!” As duas discutiam, indignadas. “Não é para isso que as amigas servem?” perguntava Eliza. “Não, amigas servem para consolar e não para atormentar!” grunhia, em resposta, Lara. “E o que eu estou tentando fazer?” “Estás tentando me irritar ainda mais. Não percebe? Deixar-me quietinha aqui é o melhor consolo que tu tens a me oferecer!” Eliza, ofendida com as palavras secas que lhe foram cuspidas, afastou-se. “Veja bem o que dizes. Não te arrependa depois.” Lara viu-a sair, lenta e decididamente, pela porta. Suspirou e atirou-se na cama.

Ligou o rádio, colocou sua lista de música favorita, fechou os olhos e tentou dormir. Não conseguiu dormir, estava agitada demais, sua cabeça latejava, o coração palpitava. Fechava os olhos novamente, mas logo tornava a abri-los. Tantas coisas embaralhadas em sua cabeça… Além do cabelo, é claro. Os pensamentos invadiam o seu espaço num turbilhão lançado a jato. A semana começara tão bem, por que acabou daquele jeito? O que estaria ela fazendo? O caminho não deveria ser esse. Mas agora não poderia mais voltar ou olhar para trás. Era apenas uma mudança. Não morreria, mas não significava que às vezes não teria vontade de desistir.

‘Se te faz bem, por que não persistir?’ esse era o seu lema. O único problema eram as pequenas confusões que aconteciam dentro de si mesma. Os conflitos, as pressões, o desespero que agora tem de superar. Seria difícil? Provavelmente. Desistiria? Agora não. Chegou tão longe, não podia parar agora. Afinal, era uma admiradora de desafios. Ela transpôs todo e qualquer obstáculo até agora. Nesse ritmo continuaria. ‘O que é conquistado tão facilmente não me tem valor, é praticamente dado. As minhas batalhas são importantes, as minhas conquistas têm muito mais valor. ’ pensava Lara. Persistiria, afinal era uma batalha que não poderia deixar de lutar.

“O que tu faria se eu te dissesse pra me esquecer?” perguntou Gabriel. Lara, num sobressalto, olhou-o analisando a essência da pergunta. “Simplesmente te esqueceria.” “Não ficaria abalada, triste, magoada, algo do gênero?” perguntou ele. “Isso tu nunca saberias…” Gabriel desviou o olhar, evitando o de Lara. “Por que essa pergunta repentina?” perguntou Lara. “Só não quero te perder.” “Lógico…” sussurrou ela, numa ironia deleitosa. O que Gabriel não sabia era que Lara ficaria devastada, desesperada, mas ela não deixaria ninguém saber. Guardaria tudo, mesmo que não fosse o melhor a se fazer. Devastada, mas ainda continuaria seu caminho.

Lara acordou-se do sono, não percebeu que adormecera. Sua cabeça ainda latejava, mas o desconforto era menos intenso. Vestiu-se e saiu. Não pensava em nada, só em parecer que estava bem, para não atrair curiosos na reunião. Encontrou, inevitavelmente, o Gabriel que compareceria na reunião também. Agora já não se falavam mais. O que aconteceu já se pode imaginar. Forçando um sorriso amigável, os dois cumprimentaram-se e entraram no recinto. Ambos evitavam trocar olhares, mas Gabriel observou que Lara parecia estressada, deprimida. Lara, por sua vez, notou que Gabriel estava menos falante. Já não se conheciam mais. E por um instante ela viu de relance um sorriso tímido. Por um instante voltou ao passado. Foi nesse instante que também sorriu. Ainda foi tudo o que ela não esqueceu. Tudo o que eles não esqueceram.

sábado, 23 de junho de 2012

Embora distante, o atalho levará a novos limites

Olhou para os lados. Sentia fome, sentia frio, sentia, mas tão somente isso. Estava sozinha, estava numa crise. Fizera a escolha certa? De um lado, sabia que não. Ainda pensava nele, desejava-o para si. De outro, sabia que sim. Não se condenaria a alguém que brincava para sentir-se bem, fizera uma troca justa. As vozes em sua cabeça não a deixavam dormir. Se voltasse atrás, conseguiria descansar? Deitou-se atordoada e custou a sonhar.

Sonhar? Já não sonhava mais. Suas lágrimas, já secas, se empoeiravam rolando a sua face. Lamentava cada vez mais. Alguém a tiraria do limbo em que se afogava? Claro que sim. Mas, por este, queria mesmo ser resgatada? Não queria mais pensar nisso, não precisava mais. A solução era arrumar algo para fazer, ocupar-se, distrair-se. Contar as estrelas se fosse preciso. Levar a eternidade, acabar com essa maldita ansiedade!

Determinada a esquecer, resolveu agir. Olhou a sua volta: as papeis jogados sobre a escrivaninha, pratos sujos na pia, migalhas sobre a mesa, móveis empoeirados, chão sujo. Era uma bagunça total. Pegou suas luvas, a vassoura e os produtos de limpeza. Seria um trabalho árduo. Preferiu começar pela louça. Lavou prato por prato, calmamente. Não pensava em mais nada além da sujeirinha que não tirara completamente, ou do prato mal enxugado.

Em seguida, organizou sua escrivaninha. Os papeis inúteis jogou fora. Por entre os que ficaram, encontrou um pequeno bilhete: ‘como posso te convencer? O que sinto é verdadeiro. ’ Paralisou por um instante. Memórias voltam repentinamente. Sente seu cheiro, o seu toque. Estremece e pensamentos tornam-se verbalizados. Lamentável, sussurra. Tira o pó, coloca em tudo em ordem. Está na hora de dar um passo a frente.

Parte para o chão. Varre cuidadosamente, cantarolando para se esquecer. A sala fica impecável. O próximo passo foi o chão da cozinha. O chão era de lajotas claras, e quando sujo não se enxergava nada além da espessa sujeira. Ajoelhou-se e começou a esfregar. Por entre as pausas, acabava por pensar. Pensava nele, na falta que fazia. Pensava também no outro, no sorriso que para ela ele abria. O que fazer era difícil de decidir. Queria tê-lo de volta, mas para isso acabaria magoando o outro. Não queria vê-lo sofrer.

Além disso, nem tinha certeza se seria aceita de volta. Estava diante de uma bifurcação, com destinos incertos. Já conseguia enxergar por detrás da sujeira. Olhou para os lados, tudo limpo, tudo tão mais claro, tudo mais leve. De repente, teve a solução de que precisava. Sem hesitar foi ao quarto, separou o necessário por algum tempo. Fechou toda a casa. Ao fechar a porta, olha para os lados, sentindo-se estranha. Ao sair em definitivo, olha para trás e suspira profundamente. Estava fazendo um atalho para, talvez, chegar a algum dos destinos. Ou, então, para criar o seu próprio. Mas isso o tempo determina.

domingo, 10 de junho de 2012

A fuga para um sonho, o final de mais um de seus contos

Seus dedos enrijecidos pairavam sobre o teclado. Não sabia o que escrever, sobre o que escrever. Suas dúvidas o cercavam, já não se tinha certeza de mais nada. O sol não o esquentava, o silêncio o inquietava, queria não querer. Tantos dilemas, tantas perguntas, nenhuma resposta, nenhuma luz para guiá-lo. Seus papeis permaneciam jogados pela mesa, assim todo o resto se mostrava numa organização caótica. Não tinha namorada, não precisava de uma, embora muitas o desejassem. Sua cabeça latejava, a luz irritava seus olhos. Queria gritar, mas silenciar-se no volume de suas palavras. O que ele iria levar no final da sua estrada, quando tudo se acabasse? Do que iria se lembrar? O que valeria a pena no final? Realmente se lembraria de algo? Não tinha com quem conversar, se afastou de seus melhores amigos. A única pessoa que o ouviria não estava em condições, tinha seus próprios problemas para resolver. Às vezes, ele mesmo se pergunta como pode chegar a tal ponto. Por que não o impediram antes? Para essa pergunta ele tem a resposta: não podia ser impedido, se tivesse algo a aprender teria de ser feito por si mesmo. Não saberia se levantar se outrora não tivesse caído. Há algumas coisas que se devem ser vividas, e é impossível impedi-las. E lá estava ele, sozinho. No entanto, havia alguém que nunca o abandonara. Ironia era estar sozinho estando acompanhado. Lembrava-se dela nitidamente. Sentia seu cheiro, sentia seu toque quente sobre suas mãos enregeladas. Via o seu olhar meigo, seu sorriso mordaz. Tinha-a em sua frente. Passou os dedos por entre as madeixas, sentindo a maciez de seus cachos em meio ao cabelo liso. Olhou-a nos olhos, afogando-se nas profundezas de um olhar magnético puramente verde. Havia algo de diferente, podia ver e sentir. Seu olhar era frio, seu toque, que outrora o esquentava, agora gelava seus dedos suavemente. Seu cheiro era diferente. O perfume de chocolate e frutas vermelhas não se sentia mais do pescoço dela. Por entre seus dedos havia um toco de cigarro. Dissera a ela que a essência se perdia misturada ao do tabaco. Ela lhe fora indiferente. Dissera-lhe palavras que preferiu esquecer, agiu como se tivesse sido abduzida, afinal aquela criatura não era quem ele conhecia como tantos contos que escrevera. Magoado, afastou-se. Esqueceu-se de tudo e todos à sua volta. O mundo girava, agora, só para si mesmo e para mais ninguém. Criou uma barreira impenetrável. Esqueceu-se até de quem era. Seus contos já não faziam mais sentido. Quem era ele? Ele poderia ser qualquer um. Ora um herói, ora o vilão. Quem ele realmente era? Era um tolo, não, fora um tolo. Agora ressurgia do chão, caído, mas tão mais forte. Seus olhos no espelho refletiam um oceano azul, calmo, mas imprevisível. Agora este era ele. Então, que ele iria levar no final da sua estrada, quando tudo se acabasse? Todas as oportunidades que um dia perdera. Do que iria se lembrar? De todas as ironias a ele dirigidas, de todas as demonstrações de carinho e desprezo. De tudo pelo que passara. O que valeria a pena no final? O arrependimento, a raiva, as alegrias e as realizações. Realmente se lembraria de algo? Nunca se esqueceria. Não se esqueceria de todas as transformações, de cada olhar, de cada toque. De tudo que um dia escrevera. Afinal, agora sabia quem ele era e não se importava se tudo se acabasse ali. Seria seu final mais perfeito, o fim de mais um de seus contos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A dúvida que o silêncio cala

Sua voz saía suave e seu sorriso era agradável. Não reconhecia mais os olhos inflamados de raiva que vira da última vez. Voltara a ser ela. Mesmo que por um instante, ele a reconhecia. Fora bem tratado, portanto, assim retribuía. Queria tocar o seu braço, como antes fazia, mas receava um desentendimento. Apenas a observou partir. Até mesmo sem a encarar, sentia a calma que dela emanava, sempre com o seu costumeiro ar de superioridade. Não a via assim desde seu reencontro. O que aconteceu para estarem tão distantes? E por que se sentiram tão conectados naquele instante? Aproximaram-se sem relutância. Ela sentia falta, mas não demonstrava. Ele era, por vezes, grosseiro. Não sabia disfarçar, mas não se renderia, seu orgulho era muito superior a isso. Ele desejava saber o que se passava, o que ela sentia e pensava, mas era impossível. Pensava nela a cada ironia, a cada olhar que lhe era dirigido. Já começava a atrapalhar. Talvez por esse motivo, talvez não, seu humor amanhecia já amargo. Suas palavras chegavam afiadas. E ela só piorava a situação. “Quem desdenha quer comprar…” dissera uma vez a ela. “Imagina então, quero muito te comprar!” esvaindo em gargalhadas, a fala ecoa. Ela dizia querendo dizer e ele sabia da verdadeira intenção. Ficaria feliz se assim fosse. Não diria o mesmo em atuais circunstâncias. Já não permite tanta aproximação, mantém-na longe. E ela, com muito grado, faz. Quando seus olhares se encontram, ela curva seus lábios, imperceptivelmente, num sorriso debochado em resposta a seu olhar indiferente. Era como se seus sorrisos, suas ironias, e até mesmo suas decepções, dissessem: ‘eu sei que te fiz bem, pelo menos um dia. Importei-me contigo, estive ao teu lado. E como o ditado diz: nada que é bom dura para sempre. Errei ao acabar dessa maneira. Não me preocupo de continuar nesta condição. Só não me olhe como se nunca tivesse sorrido para mim, ou por minha causa!’ Enfim, seus olhares diziam tudo que suas palavras não verbalizavam. E ainda continuavam misteriosos. Intransponíveis. Mas agora, o calor vinha do seu olhar travesso e provocante, do sorriso radiante, uma combinação que o arrepiava por inteiro. Ela, naquele instante, era a que conhecera, e não a que se tornara depois. Ela era quem o fazia sorrir. E ela o fez sorrir quando partiu.

domingo, 3 de junho de 2012

Contigo ao meu lado, sei no que acreditar

O que seria isso que nunca sentira antes? Antes, era tudo tão simplório, agia indiferentemente. Mas agora algo mudou. E era possível, claramente, perceber. “E se…” “E se nada, garoto. Não coloque ideias nesta cabecinha, se sabes que não terás retorno.” Ela era fria demais, mesmo não sendo. “Tu estás diferente”, um dia ele lhe dissera. Realmente, ela estava diferente. Algo, no seu âmago, indicara isso. O que tanto reprimia acabara por transbordar. “Imaginação. Estou mais sorridente, se é isso que me dizes.” Ele a encarava, e por vezes sorria. Um mistério para ele, a mais pura lógica para ela. Estaria ele tentando ignorar? O que estaria buscando? Uma confirmação verdadeira, incontestável. Devia ela, agora, provar-lhe. “Não sabia que gostava de mim… Não assim, pelo menos.” Ele a provocava como o gato que brinca com o novelo antes de desenrolá-lo. “Nunca disse o contrário.” “E por que não me disseste nas vezes que te perguntei?” “Não encontrava palavras para dizê-lo.” Assim se silenciavam. “Por favor, não me entenda errado.” ela suplicava. Sem dizer, ele apenas sorria-lhe. As horas passavam, e se arrastavam quando estavam juntos. “Acho incrível como as pessoas mudam quando estão com outras, não é?” ela, indiferente, comentava. “Por que dizes isso?” Desvencilhando-se do abraço que a envolvia, olha-o com os olhos de pura malícia. “Foi só um comentário, não precisa te acanhar.” Beijando a sua bochecha, ela recosta a face sobre seu ombro. Ele pode ser o gato às vezes, mas nunca deixará de ser o seu novelo. Inquieto, ele tamborilava seus dedos na perna dela. “Eu sei que mudo quando estou com outras pessoas.” ele disse. “Nem te preocupes com o meu comentário. Isso é natural. Entendo que o jeito que tu ages comigo é diferente do jeito que tu ages com o teu melhor amigo, ou melhor amiga.” Ele sentiu uma pontada quando ela dissera ‘melhor amiga’, mas não sabia explicar o que era. Mas no fim, acabou entendendo. “Estás com ciúme de alguém?” “Eu?” perguntou ela, rindo timidamente. Ele nada disse, apenas esperou por resposta. Persistindo o silêncio, ela resolveu se pronunciar. “Ok, estou com ciúme sim. Sei que há tempos ela é a tua amiga. Melhor amiga. Vocês estão sempre juntos, e agora que percebi que gosto de ti, sinto medo de perder-te.” “Não precisas te preocupar com isso, anjo. Somos só amigos, e, além disso, não faço o tipo dela.” Ele beijou-a de leve, vendo-a enrubescer. “Estou contigo e só contigo.” “Fazer o quê? Sinto saudade, sinto ciúme, já não posso mais controlar.” Dizia ela, envergonhada. “Não sabia que tu sentias ciúme, parecia tão indiferente quanto a isso…” “Não costumo sentir, e é quando eu sinto que me preocupo.” “Terei de me certificar de que não sintas…” Ele disse, beijando-a outra vez. “Minha menina ciumenta, não quero que essa ideia atormente-a novamente. Não suportarei ver esta tua boca curvar-se por essa preocupação infundada, ouviu-me?” Sem responder-lhe, ela acena a cabeça. “Então, assim serei teu, e tu serás minha!” Suas mãos se encaixaram, e a segurança de se terem tomou-lhes calmamente.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Tão diferentes para um mesmo destino

Esta dependência, esta ânsia por mais e mais, os deixavam inquietos. Ela tamborilava os dedos, ele mexia o pé. Evitavam se encarar. “Sinto falta dos nossos bons momentos.” pensava ela. “Apesar de tudo, te quero de volta”, atormentado pelo pensamento, ele troca de posição. Durante todo o momento de espera não trocaram olhares. “Melissa, passe aqui comigo. Por favor.” chamou a voz. A moça levantou-se e seguiu, deixando-o ali sozinho. O que faziam ali? Não poderiam resolver seus problemas? Como envolver outra pessoa, que nem ao menos conhecem, resolveria tudo? Pedro, distante, agora tamborilava seus dedos. Não conseguia prestar atenção em mais nada, estava agitado. Queria respostas. Ansiava por eficiência. “Sente-se”, disse a mulher à Melissa. Ela encarou-a, desconfiada, mas fora obediente. Obediência era o que resumia sua vida. “Sinta-se à vontade. Estou aqui para te ouvir, não se esqueça do nosso propósito!” Melissa nem ao menos suspirou. Pacientemente, a mulher retomou: “Não faça deste encontro um desperdício! Aproveite esta chance, afinal há de ter algum motivo que a traz aqui!” Melissa olhou-a lentamente. De má vontade, começou a falar. Depois, já se sentia como um livro aberto. A porta abriu e a moça saiu, encarando Pedro fixamente. Em seu encalce, a mulher que a chamara carregava montes de papeis colados ao seu colo. Num descuido, todas as folhas espalharam-se pelo chão, e Melissa, gentilmente, ajudara-a a recolher. Pedro não podia negar seu lado cavalheiro, levantou-se para ajudar também. Enquanto juntavam os papeis, Pedro se esqueceu de sua ansiedade, motivo pelo qual o levara até lá, e Melissa esquecera dos seus problemas pessoais. Estavam encantados com a paz que, de repente, os tomou. Os dois ainda evitavam se encarar, mesmo estando tão próximos um do outro. Mas, inevitavelmente, suas mãos acabaram se encaixando, obrigando-os a se olhar. Pedro viu as maçãs do rosto de Melissa enrubescer, e Melissa viu um brilho de esperança surgir em seu olhar. Estavam ali relembrando o passado, mas juntos criarão um novo futuro.

sábado, 26 de maio de 2012

Nos meus sonhos

Chegou em casa, largou suas coisas por cima da cama. Estava cansado, mas o sorriso estampado em seu rosto o fazia esquecer. Por que estivera, ultimamente, tão animado? Faminto, passara a manhã inteira de jejum. Comeu algumas frutas que encontrou pela frente, e não parava de pensar sobre. Seria perigoso levar à diante? Demais. Conseguiria controlar-se? Impossível. Precisava de uma solução.  Estava, aos poucos, entregando-se ao vício. O telefone permanecia sobre a mesa. Esperava receber uma ligação, mas sabia que não receberia. Procurou algo para se ocupar. Não encontrava mais nada. Resolvera organizar os papéis que tinha jogado aos cantos. Quantas memórias aquelas folhas traziam... A saudade apertava o seu peito. Por fim, encontrara o papel que mais lhe prendeu a atenção. Era uma carta dela. Suas palavras, tão doces, o emocionava. Queria tê-la por perto. Precisava dela. Será que ela também precisava? Enquanto lia as muitas linhas que lhe foram destinadas, algumas lágrimas rolavam pela face. Seriam lágrimas de tristeza? Certamente não. Seriam de saudade, de desejo. As suas cartas, os seus bilhetes eram intrigantes. Ela, e só ela, tinha a habilidade de envolver o leitor. Resolvera ligar. Seu coração palpitava, emocionado, enquanto aguardava resposta. Finalmente, ouve-se o 'alô'. O que dizer? "Sabe, tenho identificador de chamadas, e sei bem que é... Afinal, ia ligar-te. Já estava com saudade." a voz meiga dizia-lhe. "Por que hesitou, então?" perguntou-a. "Estive ocupada, desculpe. Não pense que me esqueci. Ao contrário! Lembro-me a cada instante!" Ouvir tais palavras o confortou. Talvez ela realmente precisasse dele.      "Ligou-me para ouvir a minha voz? Que romântico! Apaixono-me mais e mais!" disse, soltando uma risada melódica. "Liguei para dizer que já não penso em mais nada..." sussurrou-lhe, em resposta. "Confesso que nem eu. Passo o dia pensando em nós, em como queria estar ao teu lado. Nos nossos encontros, sussurro às estrelas, peço que te façam ficar por mais um tempo." Fez-se silêncio. Ela, então, retomou: "Eu tenho rido mais, sabia? Tenho estado menos estressada... E todos perguntam pelo motivo de minha euforia. Não os respondo, já não é da conta deles...”. Conversaram por mais um pouco, mas eles tiveram de desligar. As palavras da moça ficaram ecoando em sua mente, a euforia crescia dentro de si. Já não havia mais motivo para deixar de pensar nela. À noite, quando ia deitar-se, pensou nos belos olhos castanhos, no sorriso travesso, nas curvas harmônicas,  na voz suave que o fazia delirar. Pensou nela e sussurrou "Eu te amo". Em resposta, a moça visitou os seus sonhos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Em meio às nossas ausências, amo-te.

O sorriso iluminava os seus olhos. Ela, com o seu jeitinho mais irônico, encarava-me inocentemente maliciosa. Mas ambos estávamos ali, podíamos sentir. “Pergunte-me agora como sinto e não te responderei com palavras.” murmurou ela. “As palavras se fazem vazias quando dirigidas a ti.” em resposta eu dizia-lhe. E por algum tempo, as tardes se resumiam a isso, somente pela presença agradabilíssima daquela mulher tão gloriosa. Ríamos, conversávamos. Via que minha presença era tão deleitosa quanto a dela me era. Mas havia algo diferente, algo de extrema importância, imperceptivelmente agonizante. Perguntava-lhe o que havia, mas com uma resposta seca e ríspida, calava-me de imediato. A ironia intrínseca tornava-a a mais divina dos anjos. Cansado de preocupar-me à toa com esta mulher, passei a encontrá-la com pouca frequência. “Abandonaste-me, Miguel?” perguntou-me ela, assim que me viu aproximar. Não há palavras que expliquem, ou que ao menos tentem, o que se passara na minha cabeça. Talvez uma única expresse vagamente: indignação. “Talvez, Lorena.” “Ué, mas o que eu te fiz de tão grave? A ponto de privar-me da tua companhia? Esta é a pior das piores punições a mim já dadas!” Apesar da fala, sentia no olhar inquieto as mentiras em mim despejadas. “Diga-me o que eu te fiz! Para merecer essa tua atuação, essas palavras frias e insignificantes. Diga-me, eu pedirei perdão. E então pare, não precisarás mais fingir.” Lorena desviava o olhar, distante. De sua boca nada saía. “Digo-te que as tuas palavras foram cruéis. Mas não me é surpresa, estou acostumada há um tempo.” “Apenas responda-me, Lorena. Não sejas evasiva!” “Então deixe de ser um tolo e preste atenção ao teu redor, Miguel. Veja a harmonia da natureza. Cada elemento se complementa. E assim, formam um todo.” “Dizes, então, que não nos complementamos?” “Deixa de tolice, já te disse!” “Não entendo. Não posso assumir como motivo da tua frieza…” “Deixe-me terminar, então. Enfim, para um todo há a combinação da beleza única de cada. E antes que me interrompa, já que não posso ser poética, vou direto ao ponto: as minhas tardes faziam-se apenas da tua agradável companhia. Mas tu te tornaste um vício para mim, um vício que sustentava com prazer. E então, as tardes faziam-se do teu sorriso para o meu. Desculpe-me se lhe fui grosseira, ou fria, como disseste, mas não consegui sustentar este vício…” “Ainda não te entendo, mulher…” “No início, não me achava digna de qualquer sentimento por ti. Ao te comparar, comparo-te com um anjo, o meu anjo. Algo tão puro não deveria ser desviado do seu caminho divino.” “Esquece dessas insignificâncias…” já sentia cada célula do meu corpo clamando pelo seu calor. Perdoara aquela mulher que me provoca enlouquecidamente, que me tem preso aos seus pés, e vi suas asas ressurgirem de algum ponto além da escuridão dos seus caprichos. “Falta pouco, agora! Deixe-me terminar!” Lancei um sorriso tímido, e derreti-me quando retribuído tão calorosamente. “Enfim, imaginei que me evitaria, mas nunca deixei de vir aqui, onde sempre nos encontrávamos, na esperança de encontrar-te. Agora, admito, mesmo não digna, necessito. A tua luz é a única que me brilha, Miguel. O meu pensamento sempre está em teu. Já não posso ausentar-me e a melancolia me toma por inteira. Portanto, peço-lhe que me perdoe por tudo que te fiz que um dia te magoou, nunca foi a minha intenção! Se fores capaz de me perdoar, peço-lhe que me aceite para passar o resto dos meus dias ao teu lado!” Este último pedido me comoveu. Como podia recusar, vindo da mulher mais bela, da mulher que realmente amo? “Sejas, então, minha e só minha!”

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Muito além do desejo

O que estamos fazendo? Pelos Céus, isso está certo? Sorrio para ti, e o mesmo não se repete. O que houve para, de repente, estarmos tão pertos, e, no entanto, tão distantes? Essa, alguma vez, foi a nossa questão? Lucas estava atordoado, simplesmente não entendia. O sorriso, o olhar, todo o ser dela o seduzia, num fervor incessante. E, agora, não parava de se perguntar. O que se passa na nossa cabeça para desejarmos aquilo que tivemos e perdemos? Essa insistência é apenas desejo, ou nada menos do que paixão? Por que paixão, e não amor? Pudera amar alguém que o fez sangrar? Que o fez engolir o orgulho e realmente admitir que era com quem queria estar? E depois de tudo, some? São essas particularidades que o enlouquecem. ‘Por que me deixou esperando?’ perguntava ele a ela. ‘O que realmente queremos, e pelo que lutamos, sempre tem o seu valor. Se fosse algo fácil, tão simplório, será que tu saberias dar o devido valor?’ Lucas ficava silencioso, com a cabeça recostada no colo dela. Ela parecia olhar para algo que estava muito além do seu entendimento, enquanto acariciava e enrolava seus cachos de cabelo. ‘Por favor, não faças mais isso. Se fizeres, acho que morro!’ dizia ele. Diana paralisou por um instante. Seu olhar, sempre distante, encontrou o de Lucas. Calma e suavemente, ela dizia: ‘Não digas isso! Jamais! Por que morreria? Besteira!’ ‘Ora, por que. Por amor, óbvio. ’ ‘Tolo… Como se morre por amor? E se tu amas mais de uma vez? Se tu confundes o amor com qualquer outro sentimento? Vais morrer quantas vezes, então?’ sorria para ele. Lucas nada falava, aquela garota o colocava num transe de pensamentos. ‘Sabe, Lucas, não quero que tu sejas dependente de mim. Não faço o tipo grudenta. Gosto de ti, gosto de estar contigo. Mas eu tenho o meu espaço, assim como tu tens, e em hipótese alguma invadirei o teu, peço que não invada o meu. ’ Ele se preparava para contrapor, mas, tão somente com um olhar, Diana o impediu. ‘Não sou adepta ao sentimentalismo, mas isso não quer dizer que eu não sinta. Sinto até mais do que muitos românticos por aí… ’ ‘Mas, sinceramente, não parece. Não te vejo, nunca te vi demonstrar os teus sentimentos. ’ ‘Se eu não despejo para fora quer dizer que eu mantenho tudo aqui dentro, não é?’ Diana pressionou o peito de Lucas. ‘Imagina a confusão. ’ Lucas levantou-se para encarar Diana. ‘Não me faça a vilã, por favor.’ ‘Eu só não entendo. Por que acumula tudo? Por que estamos aqui, então?’ ‘Eu preciso do controle da minha situação, só isso.’ ‘Não podes ceder por uma vez?’ Diana, abatida, desviou o olhar, e Lucas, angustiado, levantou-se. ‘Quando te permitir ceder o controle, por ao menos uma vez, quem sabe…’ ‘As tuas palavras não fazem sentido.’ Ele, aos poucos, se afastou. ‘Mas eu te entendo, Lucas. E agora, que fique bem claro que foste tu quem partiu!’ E assim, as palavras de Diana ecoam em seus pensamentos a todo instante.

sábado, 12 de maio de 2012

Relato de um jornalista desanimado


Já no auge da industrialização, a pequena cidade de Essen - localizada na Renânia do Norte-Vestfália, região do Ruhr - enche seus pulmões com as cinzas jogadas aos ares. Esta nova situação de “progresso” tem afetado a população, embora que minimamente. As pequenas indústrias têm surgido em cada esquina das ruas, as pessoas perdem seus lugares para as revolucionárias máquinas. A agricultura cede espaço para a extração de carvão e produção de aço. Esta cidade outrora fora um pouco mais do que apenas um povoado cercado por campos cultivados e bosques. O que estamos fazendo? Vale a pena continuar sacrificando essa cidade, que já fora um lugarejo tão pacífico, tão diferente do que vemos pela janela hoje, pelo tão somente progresso? O progresso continua, enquanto somos esmagados pela sua força motriz. As famílias mais tradicionais têm se reunido para lutar contra esse desenvolvimento desenfreado, afirmam não concordar com as obras com que têm se deparado. Segundo Wilhelm Händel, essas obras estão devastando a cidade de Essen, tornando-a um espetáculo de cones cuspidores de poeira e cinza (como descrevera as pequenas indústrias). Para tentar reduzir o impacto da industrialização, as famílias protestarão contra as obras ainda essa semana. Antes, reunir-se-ão com o grupo responsável das construções. Quando indagado pelo motivo de sua insatisfação, Händel declara: “Não quero que meus filhos conheçam esta nova Essen. Quero que eles conheçam a em que eu cresci. Ou ao menos uma parte dela”. O maior receio daqueles que são contrários à industrialização é a total alteração da cidade e a falta de empregos, já que estas máquinas, um dia, ocuparão e farão o trabalho dos homens. “Não quero que os meus filhos, ou meus netos, cresçam numa cidade onde o sol não penetra as nuvens pela espessa poeira e cinzas. Nem que sejam privados de uma vida estável por não terem um emprego digno.”, manifesta Händel. O que se sabe do futuro desta pequena cidade ainda é um mistério. Mas por agora se tem certeza de que estão se reunindo para mudar esta situação, não ficarão estagnados diante esta circunstância. Sempre foram um pequeno povoado, e para longe disso não andarão.
Por Ricken Fuchs
07 de Julho de 1867, Essen, Alemanha.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O meu sorriso a ti pertencerá

‘Os meus olhos já refletem o teu olhar. Diga-me, como consegues me prender assim? Fazes alguma bruxaria? Ou é apenas o teu brilho que me conquista? Vicia-me, tão suave e tão calmamente, neste teu sorriso. Agora um pôr-do-sol raia no meu horizonte. ’ Há quem diga que esta menina não é capaz de se sentir assim, afinal ela é fria e sem sentimento. Mas esses não conhecem a menina sobre quem falam. Ela é irônica e levemente adocicada. Importa-se com quem prova que merece algum reconhecimento, aqueles que ela, sem hesitar, defenderia arduamente. Por quem ela não desistiria. E por aqueles que a acompanham há tempo, ela iria ao Inferno pelo o que precisassem. Afinal, não são todos que se acostumam com ela. Por ser tão, em algumas situações, sensível, aprendeu a se proteger daqueles que costumam se aproveitar. É fria, não há como negar. Mas agora sabe separar as coisas. “Digam o que quiserem.” “Só te importas com o teu próprio umbigo, com o teu próprio mundo, não é?” perguntaram-lhe uma vez. A menina respirou bem fundo, cansara de responder esta mesma pergunta várias vezes. “ Não é mais fácil? Menos estressante?” “Acho que eu ficaria louco se fosse. Eu posso não ser o mais pensante, mas às vezes me enlouqueço.” “Veja dessa perspectiva, então: o meu pequeno mundinho é território conhecido, mais do que conhecido, eu diria. Sei cada coisa que agrada e o que desagrada, no caso, a mim. Então por que eu iria me arriscar em território desconhecido? Quanto mais eu sei, mais eu posso.” “Não achas que isso cansa? Conhecer o conhecido dia após dia? A emoção está em se aventurar pelo desconhecido.” Ela nunca teve conversas assim com ninguém, estava surpresa quanto à ousadia do garoto em abordá-la daquela forma. “E se não gostarmos do que descobrirmos?” “Aprenderemos, então, a lidar com isso. Tornaremos isso positivo. Vamos, tu não deves ser tão assim como dizem…” “Assim como?” “Tão fria, insensível… Eu sei que este é apenas o teu escudo. Que o teu mundo é diferente.” “E qual é o problema se não for?” “Seria tão somente decepcionante.” “Não sei qual é o objetivo desta conversa, mas acho que já bastou.” “ Seja o motivo dos sorrisos de alguém, e permita que este alguém seja o teu motivo.” E, então, o garoto partiu. Nunca ninguém a instigou assim. E que diferença fazia? Com ou sem aquela conversa, ela já sabia a quem o seu sorriso pertencia.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A minha estrela mais brilhante

O que for, que seja o meu vício.

Mas um vício que não me vicie.

Que eu seja dependente do sorriso teu,

Mas que eu possa viver com tão somente o meu.

 

Que o teu boa noite venha para confortar as minhas noites de sono,

Mas que a tua ausência seja suficiente para me guiar em bons sonhos.

Que a tua noite se transforme no meu dia,

E que o teu silêncio que me suaviza faça do barulho aquilo que te tranquiliza.

 

Enquanto dormes, tranquilo,

Vou aos poucos tentando te encontrar.

E até lá, se eu não conseguir,

Creio que algum sinal venha para me encaminhar.

 

Calma, agora, prometo não desistir.

Tudo que me disseres vou ouvir!

A tua estrela lá no céu brilha, intensamente.

 

No fim, é juntos que vamos estar,

Assim se me esperar.

Mesmo que não dure para sempre, será eternamente!

sábado, 14 de abril de 2012

No silêncio das palavras

E quantos ais ainda suspiro

Desde que parti?

E quantas vezes na cama me reviro

Pensando em ti?

 

Da menina esqueceu

E aos tristes suspiros se rendeu

Tão distante esse olhar

Que no espelho vê se apagar

 

Estaremos juntos daqui para frente

Quem sabe, num futuro intermitente.

Mas um dia espero teus olhos fechar

Para, num sussurro, uma boa noite te desejar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Moinhos de Sangue: Capítulo final reescrito

Esta postagem só entenderá quem leu o livro Moinhos de Sangue, de Ana Cristina Klein. A nova versão do final foi elaborada, numa proposta pelo professor de Português/ Literatura, por grupos. Segue, então, a nova versão da nova versão do final do livro! Hehehe.

 

A brisa de Xangri-lá era tão mais pacífica do que a de Porto Alegre. As crianças brincavam na piscina, enquanto a mãe, Maria Beatriz Tognazzi Aranha Gomes, apreciava o solzinho gostoso para garantir o bronzeado perfeito. Angelina parecia como a mãe, mas não sem a beleza gritante e a personalidade de Bia. Já o Pedro parecia-se com o pai, até nos trejeitos.

- Mamãe, mamãe! – as crianças não se aquietavam um segundo. Bia estava começando a se cansar desta rotina de mãe. Na verdade, só engravidara para poder gozar dos benefícios de Victor Ávila, seu dinheiro, mais precisamente. Precisava de férias das crianças. Férias com estilo, em New York!

- Papai chegou! Papai chegou!

Victor parecia estressado, mas as crianças pareciam lhe acalmar. Ao ver Bia, ele já abre um sorriso de orelha à orelha. Sempre fora apaixonado por Bia, desde que ficara viúvo. Mas ele não conhecia a verdadeira Bia. A mulher com quem ele estava casado era uma máscara de várias camadas. O triste era ele ser apaixonado por ela, e ela só sentir atração, não gostar de Victor.

- Como estavam os negócios em Porto, amor? – Bia não se interessava pelos assuntos da empresa do marido, nem por qualquer outra coisa, somente para o dinheiro e sua presença marcada nas colunas sociais. Obviamente, ela ainda estava no topo de tudo, e em todas as bocas, benditas e malditas.

- Já tivemos dias melhores. As coisas estão por um fio, mas tenho certeza de que podemos recuperar!

- Tudo se ajeita, meu querido, não te preocupes. Enfim, precisava notificar-te: vou ir à New York, tenho negócios a resolver para a empresa. Será que tem algum problema?

- Claro que não! Podes ficar tranquila! Mas, e quanto às crianças?

- Estive pensando sobre… Preciso que tome conta delas. Ou contrate uma daquelas coitadas que gostam de cuidar dos ranhentos.

- Darei um jeito. Pode ir, não te preocupe com os pequenos!

- Dará conta, mesmo? Cuidar da Angelina e do Pedro dá trabalho…

- Não te preocupes comigo também. Pode ir sem problema!

- Perfeito, então. Vou aprontar as malas.

Um marido cego pela paixão, que não consegue nem perceber suas mentiras. Pudera desejar perfeição maior? Maravilha. Suas férias em New York prometem! Novas bolsas, novos vestidos, tudo de grife, e ainda: tudo verdadeiro! Bia sentia falta de suas apostas com Soninha, sentia falta de ganhar presentes dela. Mas, se a Soninha fosse mais centrada e não se metesse no que não era chamada, ainda apostariam bobagens. Pena que ela obrigou-a a ameaçá-la com aquelas fotos comprometedoras, caso contrário até a convidaria para ir à New York…

Chegando a New York, a primeira coisa que fez foi visitar Peter. Mesmo sendo um tanto constrangedor, ele era ainda um ótimo amigo. Ajudou-a, com o seu refinado gosto, a escolher lindas bolsas e vestidos. Mas um desastre acontecera. Seu cartão de crédito estava bloqueado, teria que ver qual era o problema. E lá rumaram Bia e Peter à agência, rebaixavam-se à ralé que lá frequentava. Aqueles gerentes sempre se achavam mais do que eram. O problema do cartão é que Bia havia estourado o limite. Teria de ligar para Victor e contar o desaforo pelo qual passara. Mas Victor lhe dera a pior de todas as notícias: eles estavam sem dinheiro, a empresa falira e ela teria de voltar urgentemente.

Bia desesperou-se, não sabia mais o que fazer. Nunca passara por isso antes. A única solução que encontrara foi arranjar um amante, e usar o seu poder de manipulação para conseguir voltar ao topo novamente. Faria em New York, mesmo. Com o corpo bem cuidado, apesar da idade, e a beleza que nunca lhe abandonava seria fácil como tirar doce de crianças. E ainda mais prazeroso do que matar as suas vítimas. Com todos estes fatores a seu favor, sempre conseguia o melhor. Na verdade, ela já era o melhor, os outros apenas tinham sorte.

Tendo bom gosto em suas escolhas, acabara por conquistar um rico bilionário, alto, louro e de olhos castanho aveludados. Um corpo de atleta, parecia ter jeito pra coisa. Se não desse conta do sexo, daria conta de suas dívidas financeiras. Enfim, seria, de algum modo, útil para Bia. David, como se chamava, provocava estranhas sensações em Bia. Tesão, obviamente, era a sensação mais gritante. Mas olhar em seus olhos parecia ser algo proibido. Ele tinha o mistério como aspecto natural. Depois de uma noite enlouquecedora, Bia percebe que acertou na escolha! Bom em todos os aspectos, na verdade, ótimo! Deitados na cama, David joga-a para cima de sim, segurando seu pulso firmemente. Bia olhou em seus olhos e sentiu medo.

- Está tudo muito bom para ser verdade, acho melhor darmos uma pausa. – disse Bia, tensa.

David nada respondeu, apenas sorriu-lhe e o seu sorriso disse tudo. Foi assim que Bia arrependeu-se por ter deixado marido e filhos, por estar ali naquela cama de motel, tudo por um cartão sem limite, por uma empresa falida, por não estar no topo desta vez. Seu marido enfrentaria a viuvez de novo, e seus filhos ficariam órfãos. Passaria pelo que fez Denise, Marina e Ualdisnei passarem. Ali seria o seu fim.

domingo, 8 de abril de 2012

Tempo para desabafar

“Sinto saudade das nossas conversas. Das nossas confissões. Será que ainda tens as cartas que tanto te escrevi? Será que ainda as lê? Fico aqui te escrevendo, esperando que um dia leia todas as minhas súplicas de perdão. Sinto falta de sorrir pra ti, te fazer sorrir. Não posso voltar no tempo, mas sei que os meus erros são irreparáveis. Talvez me odeie por isso, eu me odeio. Mas, e o que fazer? Pedir-te desculpa, se não me ouves? Arrastar-me aos teus pés e esquecer o meu orgulho? Não sou capaz de tais proezas. Mas engoli muita coisa para chegar aqui e dizer-te tudo isso. Destruí o meu orgulho, destrocei-o para te defender a qualquer injustiça, mas talvez tu nunca venhas a saber. Juntar os meus pedaços foi difícil. Permanecer forte quando queria desmoronar é ainda mais. Mas tudo valia ao teu lado. Desculpe-me por qualquer inconveniência. Desculpe-me permanecer tentando. Lembro-me dos nossos bons momentos. Falta muito para voltar? Sim, e isso está claro. Não quero que isso pareça mais uma de minhas súplicas, mas sim um pedido de perdão, já que ignorastes todos os outros. Se, ao menos, não encarar como um, por favor, então não ignore. Na manhã seguinte, lembre-se de mim. Do jeito que quiseres. Mas se a lembrança for ruim, então se esqueça de mim para sempre. Mas, se não for assim, lembre-se de todas as vezes que te fiz sorrir. De todas as vezes que tu me fizeste sorrir. Foi de todo ruim? Mas enfim, não quero parecer inconveniente, mesmo já sendo. Apenas quero que fique claro: vou lembrar de ti, pois tu foi o meu motivo para acordar sorrindo. E mesmo que a nossa situação faça com que nos ignoremos, tu continuas sendo o meu motivo. Enfim, feliz Páscoa.”
E esta foi a declaração de uma menina apaixonada e arrependida, para depois encontrar o sujeito pra quem escrevera e sussurrar-lhe um mísero Bom dia.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Adormecer para te encontrar

"Everybody knows that I'm rightfully yours (...)
Love ain't gonna let you down - Jamie Cullum" 


Inquieta, ela balançava compulsivamente o pé. Todos os seus fantasmas tiraram o dia para lhe assombrar. Afinal, não podia ter sido pior. Um dia chuvoso, e as pessoas pareciam ficar mais grosseiras e insuportáveis nesta situação. Claro que a Valerie não seria exceção. Seu humor estava terrível, suas palavras afiadas. “Nem ao menos um ‘bom dia’ mereço?” “Bom dia, Daniel. Como tens passado?” “Meu dia melhora quando te vejo, e quando tu me dás atenção. Hahaha” “Palhaço. Agora, se me deres licença, preciso voltar ao trabalho.” Daniel fora um antigo namorado. O mais apaixonado que tivera. O que sofrera ao perder. Mas o passado ficara para trás, deveria seguir em frente. Havia quem dissesse que Valerie ignorava-o por ser fria, não ter sentimentos verdadeiros. Mas se soubessem da verdade… O dia demorava a passar, ela se ocupava pensando na vida. Mas não podia se permitir pensar demais. “Valerie, minha bela Valerie…” “Que susto tu me deste, Daniel! Estás maluco?” Daniel gargalhava melodicamente. “Não tens quem mais atormentar, querido?” “É uma prova de amor. Queres prova maior?” Daniel sempre foi debochado, talvez tenha sido este aspecto que tanto fascinou a Valerie. Havia muitas outras características de sua personalidade forte que a encantava. Valerie conseguia lidar com a sua presença normalmente. Era um sinal de que estava, aos poucos, enlouquecendo. “Morreria por ti, sabia?” “Não digas isso, Daniel.” Por entre beijos, ele suplicava: “prometa nunca me abandonar”. “Nem nos teus piores dias, nem nas tuas piores crises, nunca.” ela prometia. Eles sempre formaram um casal bonito. Antes de amantes, eram amigos. Confidentes. Daniel dera, no primeiro dia de primavera, uma notícia devastadora a Valerie: fora diagnosticado com câncer. Valerie paralisou, não sabia como reagir. Valerie esteve sempre ao lado de Daniel durante o tratamento. Vira seu rosto, aos poucos, empalidecer e seus cabelos começarem a cair. Já não conhecia mais aquele Daniel. Um rosto triste, enfraquecido. “Deves me amar menos, eu imagino.” “Imaginas besteira. Amo-te ainda mais.” “Se quiseres me deixar, faça, eu entendo.” “Cale esta tua boca, Daniel! Prometi estar aqui nos teus piores dias, lembra?” E assim discutiam cada dia, mas não se desentendiam. Valerie via-o desfalecer, desmoronar, e se culpava por nada poder fazer. A situação de Daniel piorava cada vez mais. “Sinto-me bem, apesar dos exames não concordarem comigo. Hahaha. Sinto-me bem por te ter ao meu lado e saiba que, mesmo que eu venha a morrer, eu te amo demais.” “Não diga mais nada. Não fale em morte. Tu vais superar essa dificuldade, vou te ajudar com isso!” Valerie replicava. “Sabe, há uma coisa de engraçada nesta história…” Daniel forçava um sorriso, mas seus lábios pálidos não colaboravam. “Diga-me, então”. “Sinto-me ainda mais apaixonado por ti. Me conquistas pelo o que tu tens feito. E agora vou morrer. Mas vou morrer de amor. Tu és minha Julieta.” “Descanse um pouco, agora. Temos ainda vários dias pela frente. Durma bem, meu Romeu.” E com um beijo, Valerie partiu. Na manhã seguinte, ela ficara sabendo que Daniel havia falecido. Valerie já não sabia mais como prosseguir, estava presa à terrível realidade. A realidade de que não tinha mais o Daniel. Estava sozinha. No entanto, não estava sozinha. Ele prometera encontrá-la em seus sonhos. Assim, toda noite Valerie o encontrava ao adormecer.

sábado, 31 de março de 2012

Meu último adeus

‘Queria ter alguém para conversar’. ‘Mas tu tens’. ‘Queria ter alguém que me ouvisse’. ‘Mas tu tens, e sabes disso’. E essa era a minha conversa. Não conseguia mais encontrar o meu lugar. Sei que errei, me arrependo, mas mesmo que quisesse não tenho como mudar. Algumas coisas não tem explicação. É assim. Se ao menos se dessem ao trabalho de me entender… “Pode falar, não te preocupes.” Mas no momento em que abro a boca, que começo a contar, sinto aquele olhar de reprovação, e uma voz de repúdio me interromper, dizendo: “Pode parar por aí. Temo que precises de alguém mais especializado para te ouvir.” E assim, me viravam as costas, julgando-me pelo olhar. Não havia ninguém que me compreendesse, que pudesse ver pela minha visão. Os dias amanheciam frios e assim se acabavam, pelo menos pra mim. A culpa me corroía por dentro, mas não podia permitir que isso se mostrasse. Sempre fui forte, não podia desmoronar, não agora. Se o fizesse, tudo pelo que lutei para desperceberem viria à tona. Simplesmente não podia. À noite, não conseguia dormir. Pesadelos me atordoavam. “Tem certeza de que prefere continuar vivendo assim? Depois de tudo que fizeste? Depois de até mesmo me matar?” Impossível continuar dormindo depois disso. Sabia tudo que eu, um dia, fizera. Eu sabia, ele sabia, e continuava me atormentando assim. Preferia voltar no tempo, não ter feito tudo aquilo. Mas se eu não fizesse, quem o faria? As pessoas na rua me olhavam com nojo, mas o que me fascinava era essa mania do ser humano de julgar sem antes ver as versões mais plausíveis da história, até chegar à verdadeira. Todos desconheciam o sofrimento pelo o qual eu passava, só percebiam a minha culpa. E ainda, tão somente aqueles que realmente me conheciam desconfiavam desta maldita culpa. Para os outros, eu era apenas uma assassina. Uma das mais espertas, sem deixar um rastro do meu crime perfeito. Foi em um dos meus devaneios que pus fim em toda essa história. Fui até o lago onde costumávamos sempre ir, sentei-me à beirada e comecei a lembrar. Pedro estava sentado ao meu lado, fitando-me com seus lindos olhos verde, sorrindo. De repente, sua fisionomia gelou, e até o timbre da sua voz mudou. Ficou balançando nas pontas dos pés, próximo ao lago. “Afaste-se daí!” Eu lhe dizia. “Por que deveria?” “Porque podes cair. Até matar-se.” “A vida acabaria com estilo. Estaria aqui contigo. Não podia desejar fim melhor.” “Não digas isso! Nunca!” aproximei-me dele e tomei uma de suas mãos. Mas, como que num segundo, tudo aconteceu tão depressa. Pedro perdeu o equilíbrio, e eu tive que segurá-lo com todas as minhas forças. “Solte-me” ele pedia. Quanto mais ele insistia, mais eu relutava em afrouxar o aperto. Mas Pedro era muito mais forte do que eu, e assim ele se atirou no lago. “Pedro! Tu não sabes nadar! Volte!” eu implorava. Ele nem parecia me dar atenção. E com um sorriso nos lábios, Pedro afundara no lago. A Lua nascia no horizonte quando me dei por conta. Levantei-me e parti. Mas não fui direto para casa. Tinha uma parada, antes. E então, só depois poderia ir para casa. Para a minha verdadeira casa. Cheguei à beira de um penhasco, o qual eu sempre visitava depois da morte de Pedro. “Espere-me, Pedro. Logo estarei chegando em casa. Na verdadeira casa. Nossa casa. Ao teu lado.” E com um último suspiro, atirei-me ao encontro do meu único amor.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Um novo amanhecer, um novo dia, uma nova vida

O dia amanheceu perfeito para ele. O ar gélido arrepiava os pelos do seu corpo, e o calor do Sol o englobava num abraço. Olhou de relance para a cama em que dormira e lá estava ela, como o mais belo anjo, descansando tranquilamente. Arrumou-se e partiu, não devia levar isso adiante. Ao sair, lançou um último olhar para a mulher que talvez mudasse tudo. As horas seguintes voaram, um único pensamento, uma única visão, uma única lembrança: ela. Há quem diga que ele, Thomas, é um mulherengo, que conquista todas as mulheres que cruzam o seu caminho, para no dia seguinte sumir logo cedo e nunca mais dar notícia. Da segunda parte ele não discordava, agia assim. No entanto, ninguém o entendia. Ele já foi feliz ao lado de alguém, já amou, mas sofreu demais. Ela o magoou, e, então, nunca mais se ouviu falar dela. A solução que Thomas encontrou foi se esconder, criar um novo alguém, não se permitir sofrer. Porém o caminho para isso foi não se apegar. As mulheres que acabava conquistando se entregavam à paixão, assim ele só aproveitava. Mas foi naquela semana que as coisas começaram a mudar. Esta mulher tem um quê de mistério, veneno no sorriso, malícia nos olhos e movimentos espetaculares. Ele não sabia ao certo o que lhe chamou a atenção. Talvez tenha sido esta mulher como um todo, um desafio. O problema seria em se aproximar. Tem medo de quê, Thomas? Exato, não tens medo de nada. Nem medo, nem problema. O sorriso, o cheiro, as curvas desta mulher eram indescritíveis. No primeiro dia tudo ocorreu bem, ele a fez rir, agradou-a. Pode ver o brilho em seus olhos. Conheceram-se melhor. Helena tinha uma personalidade forte. Determinada e querida por todos. Não há alma que contrarie esta mulher. E no fundo ele já sabia no que isso ia dar. Passaram-se dias, e em todos, os dois se encontraram. Línguas venenosas já diziam “pobre mulher” quando Helena passava. Mas, graciosamente, ela jogava seus cabelos castanhos por sobre o ombro, lançava um olhar indiferente e voltava a sorrir, atraindo a atenção de todos. Ele estava gostando desta mulher. Ela não era como as que ele já havia conquistado antes. Ela faz a conquista longa e difícil, faz valer a pena. Até que um dia acordou ao lado da mulher que despertava um novo Thomas. Ele levantou, incrédulo, arrumou-se e partiu. Mas no fim do dia foi para lá que voltou, para o lado da mulher que o conquistou e que o ajudou a amar novamente. Aquele dia amanheceu para tudo ser diferente.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Meu final para minha história

Sentia saudade. Saudade das conversas, das risadas. Sentia saudade dele. Olha para os lados, para frente. O que fazer? Já em casa, ocupava-se com outras preocupações. Sem dúvida, respostas para perguntas como “o que fazer para janta?” ou “será que falta sal?” eram bem mais simples do que para os questionamentos que ultimamente tem feito. Questionamentos que tomavam suas noites de sono, responsáveis pelo seu mau humor matinal. Tem se afastado, criado barreiras impenetráveis. Mas ninguém pareceu perceber. Assim, ela vai partindo, aos poucos. Seria mais difícil despedir-se dele. Há tantas lembranças boas, sensações melhores ainda. Ele sempre foi seu bom amigo, um ouvinte para qualquer hora. Mas agora perdera tudo. Por uma tolice. E não havia nada que pudesse fazer para reverter a situação. Teria de arcar com as consequências. Se tentasse algo, estragaria ainda mais. A solução era dar um passo, mas um passo em direção contrária, para que seus caminhos não se encontrassem. Se dissesse que não se sentia culpada, estaria mentindo. Ela controla a vontade que tem de gritar, de se arrastar. Mas quase se descontrola. E, no entanto, não era isso com que mais se preocupava. Havia algo novo surgindo. Algo que sentia no âmago de sua alma. Tem sorrido um pouco mais, ultimamente. Tem se animado com palavras. Um desejo que a consome neste vazio. Um novo personagem nesta história. Aquele que a faz sentir desejada. O sorriso dele não sai dos seus lábios, o brilho permanece em seus olhos. Seu pensamento, então, voa de encontro ao dele. Nas vinte e quatro horas do dia, nos sete dias da semana. Entretanto, havia um receio: não queria se apegar demais, afinal, ainda era algo tão superficial. Mas ele não lhe dava escolhas. Acabou se entregando. O resultado fora melhor do que esperava. O sentimento realmente era recíproco. Às vezes se perguntava qual seria o final desta história se não tomasse esse rumo. Não encontrava respostas. Mas, com um beijo doce, ela descobria. Qualquer que fosse o final, não seria melhor do que este.

domingo, 11 de março de 2012

Canção perfeita de ninar

“Those were the times,
and these were the places.
Your love was so good.”
( Your love – Keane)
Assim que o sol surgia, ele despertava. O que mais poderia esperar? Nada além de um bom dia. Sorria ao lembrar-se dela. Lembrava-se dela ao sorrir. Seria tão difícil assim seguir em frente? Mesmo incompleto, devia tentar. Se a saudade o atormentava, ela aparecia para lhe acalmar. Só de olhar para ela, sentir sua pele macia… Perdido em devaneios, desperta para sua realidade. O ar gélido bate em seu corpo exposto. Mais um dia se passara. Outro se aproximava. Já superara a fase de se culpar pelo que aconteceu. Nessa época, passava seus dias de sol adormecido, protegido pela escuridão do seu quarto. Despertava tão somente quando o sol se punha. Mas, agora recuperado, aproveitava cada segundo de sol, mantinha-se ocupado, para não pensar demais. Sozinho, em sua casa, ouvia atentamente cada ruído produzido pelo silêncio. Não costumava receber visitas, não depois do incidente. Acostumara-se a viver sozinho, atormentado pela solidão. A única companhia que se permitia era a das belas flores espalhadas pela casa, e do belo jardim, que sua amada dedicava-se tanto a manter. Agora, a responsabilidade de cuidar do jardim passou para ele. Sentia prazer em fazê-lo, pois se lembrava a todo instante dela conversando com as flores. “Essa é a minha favorita, chama-se Lírio. Veja, veja, não é bela?” ela dizia, animada. “Não tão mais bela do que a dona que cuida dela”, disse ele aproximando-se dela, “Mas devo admitir que é linda”. Ela retribuiu o elogio com um lindo sorriso, valorizando ainda mais a sua beleza. Mas eram lembranças, apenas lembranças. O sol, aos poucos, desaparecia, dando lugar a um belo crepúsculo. Já não havia mais nada para fazer, pensou em se recolher. Mas, antes que o fizesse, ouvira um ruído intrigante. Ouvira uma gargalhada, leve e suave. Era ela. Ele, quase desesperado, seguia o som por entre as árvores. Procurava-a, mas não a encontrava. Sem conseguir evitar, chega ao topo de um penhasco. Do mesmo penhasco que por vezes eles haviam se encontrado. Do mesmo penhasco que levou sua amada pra longe. “Afaste-se da beirada, por favor”. Num sobressalto, ele vai de encontro a ela. “Não faça nenhuma tolice”, dizia ela. Ele, sem saber o que dizer, apenas aproximou-se da beirada. “Já não tenho mais motivos para continuar vivendo.” “Não irá resolver nada, você sabe disso.” “Não há o que me convença disso.” Ela, aproximando-se dele, estende-lhe a mão. “Então faremos isso juntos.” “Não, você já passou por isso uma vez. Não vou fazer dessa a segunda.” Ainda assim, ela insistiu: “Por favor. Estamos juntos. E se permitir, ficaremos para sempre. Só assim descansarei.” Ele, então, toma a mão de sua amada. “Para todo o sempre, para sempre juntos. Simples assim.” E então, de mãos dadas, pulam do penhasco, para viver mais a eternidade juntos.

sábado, 10 de março de 2012

Desejo


A Lua se encontrava em seu ponto mais alto, no céu. Olhar pra ela lhe fazia refletir. Estaria pensando demais, e agindo de menos? Ou seria ao contrário? Precisava de respostas, mas estas teriam de ser encontradas por ele próprio. Já era tarde, um minuto a mais e se atrasaria. Pegou o seu casaco e saiu, sem ao menos olhar pra trás. Enquanto isso, as mesmas perguntas a intrigava. Ela buscava, assim como ele, respostas. Não as encontraria parada ali, apreciando a beleza da Lua. “Quem a colocou lá em cima, distante de tudo e de todos, agiu com muito egoísmo.”, pensou ela. Olhando por uma última vez a Lua, Helena adormece, aconchegada em sua cama. Um sono agitado, um sonho confuso. Via, em sua mente, uma face, um homem. Tinha olhos verdes, cabelo castanho e uma boca fina que se curvava num sorriso sedutor. Conhecia-o. Só não se lembrava de onde. Suas palavras saíam num tom suave e melódico. Mas, ela não conseguia entender nada. Sua visão ficava embaçada, turva, até que não enxergava mais nada. De repente, o sol invadia o seu quarto. “Bom dia”, dizia ele abrindo a cortina do quarto. O olhar, o sorriso, a voz… Lembrava-a do sonho que tivera. Mas, ao olhar para ele, para seus olhos verdes e seu sorriso sedutor, aos poucos percebia: eram memórias, apenas memórias. E agora, ali estavam, juntos. Deixaram de pensar e passaram a agir. Eram memórias de quando tudo começou.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Para seguir em frente

Entre suspiros, suas mãos contornavam sua face. Sua cabeça parecia explodir a cada ruído distante. Não conseguia se concentrar, não conseguia parar de pensar. O que fizera teria sido ruim assim? Teria ele magoado ela, e ela o magoado mais ainda? De fato, alguma coisa além havia, a situação estava instável demais. E, no entanto, agia com indiferença. Nenhuma resposta cairia do céu. A vida não é um conto de fadas no qual existem as princesas que têm final feliz. Não podia esperar um sorriso, se não tentasse ao menos sorrir. E como fazer? Não era apenas curvar os lábios. Um sorriso verdadeiro, era o que queria. E, primeiramente, teria de deixar o passado para trás. O que passou, passou, e nada trará de volta. Aqueles dias ensolarados, por mais que se queira, não voltarão mais. A solução, então, é seguir em frente, sem se prender aos pedaços que ficaram pra trás. Sorrir para cada dia que amanhece, e prometer ser a cada por-do-sol uma nova pessoa na manhã seguinte. Ouvira em sua mente, enquanto, aos poucos, levantava: "seja cativante, seja divertida, seja sedutora. Olhe com um ar misterioso, sorria com vontade. Seja o que for, mas seja alguma coisa. Mas não seja nada além do que tu mesma. Siga em frente olhando sempre pra frente. Não pense em voltar atrás". Levantando-se, lentamente, se olha no espelho e sorri: um novo amanhecer, um novo dia, uma nova vida. É o que terá como objetivo. E sempre lembrando: deixar o que ficou pra trás. Não se prender a pedaços que caíram no meio do caminho. Um mundo gira, e ela não poderia ficar parada.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Nós queremos que tudo mude


Ele deixa de lado, então, os papeis. Sem inspiração... No que mais poderia pensar? O que mais poderia tentar? Já não havia esgotado suas opções? Sabia que dali pra frente, tudo seria diferente. Teria ele coragem de seguir? Estrutura para aguentar? Enquanto pensava, voltava aos poucos a escrever. As ideias surgiam-lhe na mente. Escrevia o que sentia... Não, sentia o que escrevia. Cada palavra, cada frase, cada parágrafo. Era só mais um capítulo, mais uma página, para no fim criar um livro inteiro. Algumas palavras permaneciam em sua mente. Magoado, claro que estava. Não esperava aquela atitude. Receoso, não se desculpava por algo que não fez. De repente, uma lembrança, a mais real de todas que podia ter. Tinha-a bem a sua frente. Quase podia senti-la. Sentia seu cheiro no ar. Mas, ainda assim, não conseguia se aproximar. “Engraçado quando a gente não consegue retomar ao que éramos antes. Engraçado esse clima que fica entre a gente. Que nos obriga a desviar o olhar.” dizia ela. Por mais que tentasse, não dava um passo à frente. Estava estagnado, num mesmo lugar. “Lembre-se de enfrentar os teus medos, os teus receios. Saia dessa caixa de conforto. Assuma uma posição.” seus dedos, trêmulos, escreviam no papel. Durante este conflito que criou para si mesmo, ele toma uma decisão. Assume um lado. “Mensagem enviada” exibia a notificação no celular. Tão melhor ficou que conseguiu acabar seu livro, por inteiro. Ficou mais tranquilo sabendo que poderia ver o céu por detrás das nuvens. Sabendo que seus dias ficariam menos pesados, mais bonitos e tão mais vívidos. E sua caixa de saída o entregava: “Desculpe, disse que não devia. Não há palavras que expressem o meu estado agora. Errei, e reconheço. Mais do que tudo, te admiro, isso não mudou. Então, se puder me perdoar, mesmo que não volte a ser como era antes, ficaria aliviado. Mesmo sendo ignorado, prioridade é o teu perdão. Só isso.” finalizando a mensagem; “Desculpe, de verdade.” A resposta chegou quase instantânea: “Reconhecer não é suficiente, de tão errado que estava. Mas não estou aqui para julgar. Terá o meu perdão, assim que fizer valer a pena. As palavras são muito básicas, prove que se arrependeu com atitudes.” Mas a resposta tardou a chegar. E que belo dia surge detrás das nuvens.

Pela magia de um belo dia

O sol brilhava lá fora. Convidava-a a sair de dentro do quarto, a aproveitar um pouco o belo dia que surgia, depois do tumulto que passara. Mas ainda assim, ela o recusava. Não precisava sair do quarto para aproveitar o que o dia lhe oferecia. E ainda se sentia tumultuada. Não tivera tempo para se organizar, lidar com seus pensamentos, seus sentimentos. Sozinha, resmungava “por que a saudade maltrata a gente? Por que não podemos lidar com isso racionalmente?”, enquanto procurava por algo entre um monte de papel que empilhara. Derrotada pelo cansaço, desistiu do que queria. Então, uma figura se materializara na sua frente. Assustada, pulou para trás, afinal não era normal receber uma visita, ainda mais daquele jeito, tão de repente. A figura se aproximava à medida que Sophia se afastava. “Olhe bem nos meus olhos e diga que não desistiu”, pedia a figura. Sophia hesitava, era apenas uma projeção de sua mente, não havia o que temer. Aproximou-se e analisou o trabalho genial que sua mente projetou. Era uma figura perfeita, a projeção exata do seu amado. Os olhos castanhos, ternos, contrastavam com seus lábios, que quando num sorriso, suavizavam qualquer problema. Sentira falta de vê-lo sorrir, de ao menos olhar em seus olhos e, para ele, sorrir. Sentia falta do seu abraço. “Sinto a tua falta”, disse ela, aproximando-se ainda mais. Ele sorriu e estendeu a mão para ela. Dessa vez, sem hesitar, tomou sua mão, lembrando-se de todos os momentos que passaram juntos. “Uma projeção um tanto real, não?” perguntou ele, sorrindo. “Uma cópia exata, um trabalho perfeito” disse ela, em resposta. “Mas e então…” começou a dizer, quando Sophia o interrompeu. “Não sei se posso dizer que desisti. Mas perdi a vontade, a esperança. Há somente uma coisa que quero, e, no entanto, entendo que é improvável que eu possa ter.” “Lute, então” disse ele. “Lutar? Muito tola eu fui.” Sophia replicou. “E, se me permite, poderia dizer o que tanto queria?” “Seria preciso?”, ela sorriu para ele. “Nós sabemos a resposta”, ele então retribuiu o sorriso. Sophia, dando um passo a frente, começou a discursar: “veja bem, eu me lembro exatamente de quando éramos um só, unidos. Eu contava contigo, e vice-versa. E já no primeiro instante fui conquistada. Mas receio que eu também tenha conquistado, entende?” ela sorriu para ele. “Mas, continuando. Se houve alguém que conseguia me envolver, esse alguém era tu. Nós ríamos, e não havia desentendimentos, ou raramente aconteciam.” “Vá logo ao ponto, por favor,” ele interrompeu. “Enfim, tudo isso para dizer que o que eu mais quero é te ter.” “E isso faria te sentir melhor?” perguntou ele. “Bem, contigo nunca me senti mal” “Disse antes que tu foi uma tola, por quê?” “Estive todo o tempo ao teu lado, e nunca fui capaz de te dizer o que eu sentia. Nunca disse “eu te amo”. E por isso, por ter perdido essa oportunidade, fico aqui me lamentando. Há quatro longos anos venho alimentando esse vazio que sinto dentro de mim, essa saudade que eu tenho.” Sophia explicou. “Deixe-me te dar um conselho: não desista. De nada. Se quer algo, lute, corra atrás. Se for para te fazer bem. Se me quer, lute por mim. Eu vou lutar por ti até o dia em que eu não puder mais. Se perdeu uma chance, crie outras. Mas nunca desista do que te faz bem.” disse ele. E com um último beijo se despediu de Sophia. Assim, Sophia acorda para o belo dia que acaba de surgir.

Não há o que questionar

"Saiba que para isso eu existo. Estar ao teu lado, em todos os momentos, sejam difíceis ou fáceis. Não importa, aqui estou". Eles caminhavam de um lado a outro. " Eu sei, mas existem coisas que não podem ser compartilhadas. Segredos, sabe, o mais profundo desejo, ou então que não seja conveniente". Eles agora se encaravam. Sempre estiveram juntos, e era obrigação de Miguel cuidar de Rafael. "Mas..." "Não tem mais, nem menos. Eu escuto essa história de que preciso me abrir pra não enlouquecer, mas parece que tu esquece que eu te conheço, e sei muito bem que há momentos que tu passa pelo mesmo. Quando te pergunto algo, a resposta sempre é a mesma: Estou bem. E se questiono, levo pedradas". "Sabe que não é assim, eu só me preocupo contigo. O que há de errado nisso?" " Há tudo de errado. De tanto se preocupar comigo, não há tempo de se preocupar contigo mesmo. Será que é demais pedir uma folga desses interrogatórios que só levam a discussões?" Rafael parecia agitado. Mas com motivo, aliás o irmão sempre fazia isso. E era assim que sempre se desentendiam. "Mas se eu parar de me preocupar contigo, quem fará?" "Ora, quem, Miguel. Eu mesmo. Já sou crescido, sei me cuidar. Tire um dia de folga, vá se divertir. Eu vou ficar bem". Rafael então deixa o irmão sozinho, na sala. Já tiveram desentendimentos como esses, mas Miguel sempre ficava incomodado. Não é que não confiasse no irmão caçula, só não queria se sentir culpado, caso alguma coisa acontecesse. Rafael, que há pouco havia saído, aparece na porta novamente. "Sei que nada disso te agrada. Mas às vezes é preciso dar uma chance. Ninguém aprende se não errar, se não cair algum dia. Se te importa comigo, não me impeça de cair, apenas me ajude a levantar". E, assim, Rafael se foi.

Por uma simples mensagem

Um sorriso tomou-lhe o rosto quando ouviu o bipe do telefone celular. Uma nova mensagem, anunciava o aviso no visor. Estivera esperando a tal mensagem. Uma sensação invadiu-lhe o corpo por completo. Iria dormir tranquila. Há tempos não era tomada pela tal sensação, mas bastou a mensagem para fazê-la sorrir, sentir-se lembrada. “Farei o possível, para que dê certo”, uma vez ele dissera. “Eu farei o impossível”, frisou ela. Isso, para ela, já bastava. Estivera trancafiada dentro de uma fortaleza, a cada decepção que passava. Mas ele, agora, tinha a chave para libertá-la. “Fará mesmo o impossível?”, insistia ele. Ela, com um largo sorriso no rosto, respondia: “Irei ao infinito, e além”, e, então, ria. Ela não estava brincando, ou mentindo. Estava sendo sincera. Sentia que assim podia ser, sem problemas. Havia algo de mágico, em toda essa situação. Algo que ela não recordava. O sorriso permanecia em seu rosto e a mensagem à mostra, no visor. Sabia que havia um diferencial, podia senti-lo. E no meio de tantos pensamentos,permanecia no visor do celular, a sensação não abandonara seu corpo, o sorriso ainda estava lá. Até quando? Por um bom tempo, esperava. Que fizesse durar, era o que ela desejava.

Por detrás da beleza do teu olhar

Ele andava de um lado a outro. Animado, agitado, não saberia dizer como estava. Estava inquieto, parecia sentir cócegas no estômago, era uma sensação gostosa. O sorriso não saía do seu rosto, de orelha a orelha. Há tempos não se sentia assim. Era a emoção de um novo amor. A remota ideia lhe causava arrepios de prazer. Sentia-se feliz ao falar com ela, ao pensar nela. Passava horas pensando no seu sorriso, em seus lábios carnudos que se curvavam exibindo seus dentes perfeitamente alinhados, realçando ainda mais sua beleza. Sua beleza não estava nas curvas do seu corpo, nem na malícia do seu olhar, mas estava na sua simplicidade, no seu carisma. Ela tinha um jeito cativante de ser. Seu sorriso, de uma suavidade incrível, fazia qualquer um se apaixonar. Seu olhar, de tamanha intensidade, intimidava a todos. Poucos conseguiam conquistá-la. Era uma mulher difícil, mas de atitude e personalidade. Não se contentava com pouco, queria sempre mais. Foi essa sede de superação que lhe chamou a atenção. Uma líder nata, tudo o que desejara. E no entanto, lá estava ele, no anonimato. Teria a coragem de se pronunciar diante sua grandeza? Decidiu, então, que estava pronto para encará-la, afinal, se assim não o fizesse, morreria por amor. Sentiu-se nas nuvens quando a desejada aceitara seu pedido. Na verdade, estava mesmo nas nuvens. Deveria ter suspeitado, por trás de um sorriso, pelo seu olhar, há sempre um lado negro. E o dela estivera há tempos sendo reprimido. “Coitado de quem a escolher”, uma vez ouviu alguém dizer. Ignorando todos os avisos, entregou-se, de corpo e alma. E, antes mesmo de subir aos céus, lembrou-se do que, uma vez, sua amada dissera: “Quando for demais, desconfie. Há sempre um preço por esse algo a mais”. Foi tolo ao ignorar suas suspeitas, e realmente, havia um preço por detrás disso tudo. Agora ele sabia.

...

Inquieto, tamborilava os dedos na mesa. Tentava encontrar uma solução, mas por onde começaria? Pelo início? Era inútil. Não havia nenhuma resposta. Caminhava pelo quarto. Sua cama estava bagunçada. Havia roupas, bilhetes, fotos... Havia um corpo. Tentou lembrar-se da noite anterior. Inútil, como todas suas tentativas frustradas. O que mais poderia tentar? Não havia nada naqueles bilhetes, ainda menos naquelas fotos. Inútil, inútil, inútil! Como há tantos anos fora, inútil. Nem mesmo na tentativa de provar o contrário. Falhara, e agora um corpo jazia em sua cama. O que fazer com o corpo, de belas curvas, pele macia, cor delicada? E ali estava, inerte, sobre sua cama. O que fizera? O desespero começava a tomar-lhe o corpo. Em sua mente não havia mais nada. Quem era? Não havia resposta, só havia pergunta. " No meio de tantas provocações, a única solução tinha que ter sido essa?" Haveria algo para compensar tal atitude... Procurou em suas gavetas, por entre suas roupas, e então achou o que procurava. Uma faca, cabo de prata, linda e afiada para se redimir com a moça que em sua cama estava. Cravou-a em seu próprio peito, e, enquanto agonizava, deitado no chão de seu quarto, a moça, que antes em sua cama estava, levanta e caminha lentamente em sua direção. Ao seu ouvido sussurra: " não adianta querer apagar os teus erros. Eles sempre te perseguirão, mesmo que num sonho. Como eu o persegui. E agora está aí, afogado em remorso, sem ser capaz de saber o que é real e o que é fantasia. E eu, como um sonho, agora posso sumir. Já tive a minha vingança. Tudo teria sido diferente, se ao menos soubesse quem tu realmente és". Ele, então, afunda em seu sono eterno.

De volta pra casa


E ele lá, afogado em seu passado. Lembranças que não somem de uma hora para outra, palavras que queria tanto falar. Jamais achou que chegaria a tal ponto, que o caminho que escolhera levaria àquele triste fim. Mas lá estava, e não havia nada que pudesse fazer, senão esperar. O tempo fecha as feridas. E quanto às cicatrizes, bem, poderia disfarçá-las. Agora estava parado em frente a um elevador. Ele precisava sair dali. Subir ou descer, precisava sair. A porta do elevador abriu-se. Ele entra no elevador, precisava escolher aonde queria ir. Mas não havia andares. Só havia uma seta para subir e outra para descer. Antes que ele pudesse escolher qualquer um dos dois, um voz em sua cabeça diz: "para subir, é preciso saber perdoar. Para descer é preciso ignorar a opção que tens de subir". Ele, então, por um momento pensa. Depois de tudo que lhe acontecera, seria possível perdoar? Depois de tanto chorar, depois de tanto gritar? Seria possível perdoar aqueles que fizerem de sua vida um inferno? Já estava decidido, iria descer. Mas antes que apertasse o botão, o elevador já estava em movimento, descendo. Já vivera no inferno uma vez, qual seria o problema de voltar? Estaria, então, voltando para casa.

No final da estrada


Ela então partiu. Precisava desse tempo, necessitava pensar em si, sozinha, longe de seus próprios problemas, até. Um tempo para se reerguer, permanecer de pé. Decidiu, então, levantar a cabeça e olhar para frente. Percebeu que seus problemas não são os únicos existentes. Ficaria ali? Pensaria em voltar? Precisaria de ajuda? Não, não encontraria ali a solução. Precisava de si. Há tempos havia se esquecido de como era trabalhar com sua mente, do quão confortável eram seus problemas. Permanecer ali já não era mais uma opção. Havia dor e sofrimento em tudo que a cercava. Voltar de nada adiantaria, só a machucaria ainda mais. Tudo que é pra sempre tem um fim, foi isso que aprendera com suas quedas. Ninguém poderia ajudá-la. Agora, era olhar pra frente, limpar seus joelhos, e continuar caminhando. No final de sua estrada, ela encontrará alguém que a faça mudar seus conceitos, alguém que a faça acreditar. E é isso que lhe dá forças para continuar.

Tudo o que eu preciso



Um olhar,
Um sorriso,
Nada além do que eu preciso.

Uma palavra,
Um abraço,
Queria tanto dividir o meu espaço…

Faça-me sorrir,
Faça-me chorar.
Mas independente de qualquer coisa, é com você que quero estar.

Por entrelinhas



Um dia para viver.
Uma noite para sofrer.
Um dia e uma noite para aprender.
E a eternidade para passar com você.